Vícios Químicos – Uma visão espiritual
- Taty Mendes
- 25 de jun. de 2017
- 7 min de leitura
Vocês já ouviram alguém ao tomar uma cachaça dizer “uma para mim e outra para o santo”? A minha avó, já dizia “todo bêbado tem anjo da guarda forte”. Somente mais tarde, após estudos do espiritismo, fui entender esses jargões populares.

Ressalvas importantes
Eu aprendi que a verdade de cada um é construída com a sua própria história, conhecimentos adquiridos e vivências. Considero que tentar te convencer de uma nova verdade é um grande desrespeito com toda a sua construção da sua verdade. Assim, para entender este artigo, há que existir dentro da sua verdade ao menos uma brecha para o entendimento da vida eterna, ou seja, que há apenas uma vida e que, por enquanto, estamos vivendo uma experiência na Terra. Se você não considera esta possibilidade, talvez este artigo não lhe faça sentido. No entanto, se você considera a possibilidade da vida eterna, é possível que você veja muita lógica neste estudo.
De forma complementar, recomendo a leitura do artigo A cura pela observação dos vícios
O vício químico
Para explicar melhor, vou utilizar um personagem neste estudo: João (nome fictício).

O João é um homem bom, não deseja o mal de ninguém. Ele nasceu em uma família humilde e precisou trabalhar cedo. Ele passou por muitas dificuldades e via conforto em tomar uma cervejinha de vez em quando. João se casou, teve filhos e se viu preso em um casamento nada harmonioso. Voltar para casa depois do trabalho era um grande sofrimento. Então ele passava naquele bar e tomava uma dose de cachaça. As doses foram aumentando com o tempo e João sentia mais e mais vontade de tomar “só mais uma” antes de ir para casa. Ele passou a não se ver mais sem o álcool, não se conhecia mais sóbrio. Um belo dia, João desencarna (falece, se desprende da carne) e as circunstâncias deste acontecimento não importam muito para este estudo.
Lembra que eu disse que era importante para este estudo considerar a vida eterna? Pois bem, o mesmo João que viveu a história inventada aqui é o João do plano espiritual. No plano espiritual, depois de um difícil desenlace do corpo físico, João percebe que o espirito carrega as mesmas manias, vícios e pensamentos. João entende que já desencarnou (saiu da carne física), mas sente fome, frio e muita vontade de beber uma cachaça.
“Muitos de nossos irmãos, que já se desvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar. “[3]
Em espírito, João vai ao bar e pede uma cachaça, mas ninguém o escuta. Ele se desespera e pede mais uma vez, agora falando aos gritos “Me serve uma aí!” e curioso, um rapaz encarnado repete a sua fala ao mesmo tempo, como se fosse um “robô”. João se aproxima de Carlos (outro nome fictício) feliz e impressionado com este fenômeno. Carlos bebe aquele dose de cachaça e se sente estranho, nunca tinha gostado tanto de cachaça, ele preferia cerveja. Ao beber a dose, João absorve todo a energia do álcool emanada pelo Carlos e sente seu vício satisfeito.
“Estaríamos diante de um homem embriagado ou de uma taça viva, cujo conteúdo sorviam gênios satânicos do vicio?” [1]
Chico Xavier, Livro no Mundo Maior, Capítulo 14.
Naquele momento, João vê em Carlos uma oportunidade de saciar o seu desejo pelo álcool. João passa a acompanhar Carlos no seu dia a dia e, em sintonia, sempre o convida para tomar só mais uma dose.
“(Sobre uma visita a um bar, André Luiz relata) As emanações do ambiente produziam em nós indefinível mal-estar. Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Algumas sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelo calor dos pulmões que as expulsavam, nisso encontrando alegria e alimento. Outros aspiravam os ares dos alcoólatras.” [3]
Observando o ambiente do bar, João precisa se acotovelar para “proteger” Carlos. Há outros sofredores que desejam dividir estas emanações do álcool desprendidas pelo seu pupilo.
O processo da obsessão
A obsessão é uma via de mão dupla em que o obsessor e o obsidiado entra em sintonia e passam a viver em comunhão. Para o dicionário Houaiss, obcecar é tornar cedo, cegar; privar do discernimento; perturbar; fazer perder a razão; e é exatamente isto que o João passa a fazer na vida de Carlos. Cabe ao Carlos o papel de justificar que é apenas um copo e que não faz mal e ao João um estímulo ao álcool em benefício próprio. Ou seja, não há um obsessor que vá produzir um vício ou pensamentos que não estejam em sintonia com o obsidiado. Assim, João apenas reforça e estimula algo que já existe em Carlos.
“Todo viciado é um obsidiado em potencial. (…) Na comunhão obsessiva o Espírito colhe as sensações do viciado.” [2]
Nesta nossa história, Carlos passa a ter um “protetor”. Coloquei entre aspas a palavra protetor para ressaltar que o beneficiado aqui não é o Carlos e sim o João.
“(no processo da obsessão) Encarnados e desencarnados se prendem uns aos outros, sob vigorosa fascinação mútua, até que o centro de vida mental se lhes altere.” [3]
O João precisa de Carlos para manutenção do seu vício e ele não vai deixar com que lhe atrapalhem. Carlos chega em casa todas as noites muito alcoolizado, “foi o anjo da guarda que te trouxe aqui”, dizem a família preocupada. Carlos tem amigos que tentam demovê-lo do vício do álcool. Eles mostram o sofrimento a sua família e a possível perda do emprego. O que eles não sabem é que Carlos não tem forças e não quer sair do vício e que João reforça todos os dias esse desejo, além de afastar os amigos que não comungam com os seus propósitos. E eles seguem assim, acoplados em seus desejos. Vejam, amigos, que não coloco nenhum dos dois como vítimas aqui. Há um interesse mútuo, uma sintonia.
Como sair dessa
Um belo dia, Carlos chega ao trabalho ainda emanando cheiros da bebedeira de ontem. Mais um dia improdutivo, pensou o seu chefe. Ao final do expediente, Carlos foi demitido. Ele entra em desespero completo. Ele sabe que a sua família passará por mais dificuldades, talvez até fome. Ele anda pelas ruas atordoado e João o acompanha condoído. Carlos pensa que não pode mais seguir nessa vida das bebidas, mas está completamente viciado e não sabe como agir. Ele olha para o céu e diz: meu Deus, me ajuda a encontrar um caminho.

Na volta para casa, ele passa por um caminho diferente e vê um centro espírita (caberia aqui uma igreja, uma Ong. de trabalhos voluntários, um centro budista, uma academia de Yoga, ou qualquer outro grupo que lhe mude a faixa de vibração). Carlos pensa, nunca tinha visto um centro espírita aqui, vou entrar para pedir uma orientação.
No centro espírita, Carlos se depara com uma palestra que fala do caminho do bem, na vibração do amor de Jesus. João, que estava acompanhando Carlos se emociona com as palavras e pensa que também precisa mudar de vida. Uma entidade trabalhadora da casa se faz visível ao João e lhe estende a mão. Há muito tempo ele não sentia tanto amor, se comove e aceita a ajuda. Carlos toma um passe e se sente revigorado. Agora é hora de buscar ajuda de verdade e tentar refazer a sua vida, pensa ele.
Tomara que Carlos se liberte de uma vez destes vícios, para que ele não precise assumir o papel do João em seu desencarne.
Amo finais felizes. E você?
Considerações
Toda vez que eu beber estarei sendo obsidiado?
Não, apenas se você entrar na sintonia de alguma alma sofredora que possa estar próximo. Para estar “blindado” você precisa estar vibrando no amor, ter bons pensamentos e não ter brechas para que algum sofrimento em você sintonize com os sofrimentos daquele irmão sofredor. A situação explicada cabe também para os remédios para dormir e outras drogas.
Apenas com tratamento espiritual é possível cortar os vícios?
Não, há que se tratar também o vício químico e é importante a força de vontade do viciado. Este artigo se restringe apenas a em apresentar as questões espirituais do vício, mas há questões psicológicas e químicas que precisam ser consideradas. No entanto, é sempre útil nos casos dos vícios químicos, ter algum tratamento espiritual associado.
Na Umbanda, alguns médiuns usam da bebida e do cigarro, nestes casos há este quadro relatado?
Algumas entidades da Umbanda utilizam as emanações do álcool e do cigarro para obter ectoplasma (fluidos, matéria da terra) necessário para fazer curas e desfazer miasmas (energias geradas por pensamentos). Eu já ouvi uma palestra de uma entidade da Umbanda que dizia que atualmente eles não precisam mais disso, visto que já aprenderam a buscar essa matéria da natureza e da prece, mas que algumas pessoas que frequentam o local ainda precisam ver o cigarro ou a bebida para acreditar na cura. Também já ouvi de uma outra entidade que não precisa de velas ou bebidas para fazer trabalhos de cura, visto que um abraço cura tudo. Outras entidades ainda utilizam deste fluidos para tratamentos. Sobre os fluidos recomendo a leitura da Gênesis de Kardec, capítulo XIV. Existem outras considerações sobre a Umbanda que são importantes, vale a pena estudar mais.
Mediunidade e álcool
Os médiuns, principalmente os médiuns de efeito físico (mediunidade de cura é um tipo de efeito físico), desprendem o ectoplasma com muito mais facilidade do que aquele não possui a mediunidade desenvolva. Ressalto que todos nós desprendemos tais emanações, mais os médiuns o fazem com mais intensidade. Assim, os espíritos obsessores preferem os médiuns por tirarem maior proveito das emanações. Além disso, no transe mediúnico, há relaxamentos que são muito semelhantes aos produzidos pela embriaguez das drogas. É bem comum, um médium de incorporação dar passividade ao beber por abrir estes caminhos, se libertando dos controles imprescindíveis aos médiuns. Acredite, em um boteco as probabilidades de uma incorporação de um espírito iluminado são muito baixas. Melhor evitar!
Referências
1 – Livro No Mundo Maior. Francisco Cândido Xavier por André Luiz. 2 – Livro Não pise na bola. Richard Simonetti 3 – Livro Nos Domínios da Mediunidade. Francisco Cândido Xavier por André Luiz.
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